Associados do CAMP comentam sobre as lives semanais do Presidente
A convite do UOL, associados do CAMP foram procurados para comentar a estratégia de Lives semanais nas redes sociais realizadas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. Os associados Emmanuel Publio Dias e Fred Perillo comentaram. Abaixo alguns dos principais trechos:
Lives semanais de Bolsonaro criam cumplicidade com “improviso calculado”
Para Emmanuel Publio Dias, professor da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) e especialista em marketing político, Bolsonaro contorna a imprensa por meio das lives e, com isso, gera um sentimento de cumplicidade entre seus apoiadores na oposição à mídia tradicional.
“Ela [a live] repercute esse sentimento. Ela fala: ‘Olha, estou passando isso para você porque a Folha não está te dizendo, a TV Globo não está te dizendo, e nós sabemos qual é a verdade e eu estou te passando'”, diz.
Ainda segundo Dias, o presidente notou que as lives repercutem não só entre seus eleitores, mas também na chamada mídia tradicional. “Essa reportagem é uma prova disso”, diz.
O consultor político e estrategista digital Fred Perillo, membro do Camp (Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Público), afirma que Bolsonaro quer manter no governo “um clima de campanha”, e isso passa por criticar a imprensa e tirá-la da mediação com o público.
Perillo vê também inspiração de Bolsonaro no presidente americano, Donald Trump, que trava embates públicos com a imprensa e cria canais próprios de comunicação. Ele cita como exemplo o “Real News Update” (Atualização de notícias reais, em tradução livre), que desde 2017 vai ao ar semanalmente nas redes sociais de Trump.
“Eu vejo que o Bolsonaro está criando algo parecido, dizendo que, ‘nos meus canais, você vai ter a verdade’, e a imprensa [fica] com a versão dela ‘fantasiosa’. Ou seja, tudo o que é contra o governo vai ser ‘fake news'”, diz.
Falando a língua das redes
Em termos de estrutura técnica, as lives presidenciais não diferem muito das que Bolsonaro fazia antes de assumir o cargo. Não há estúdio e, aparentemente, nenhum equipamento profissional de som, luz e imagem, como um usuário comum de internet faria. “É um tipo de linguagem de simplicidade e proximidade”, afirma Publio Dias.
Para Perillo, Bolsonaro acertou ao entender a linguagem das lives nas redes e busca manter isso.
“Você não pode fazer televisão na internet, a televisão tem uma outra linguagem estética. Quando você faz uma live muito produzida, com duas, três câmeras em um ambiente simulando um estúdio, isso por si só atrai menos audiência da internet”, diz. “Ele nada mais está fazendo do que manter no governo o que ele fazia na campanha.”
Improviso “planejado”
Segundo os entrevistados, o que parece improviso tem boas chances de ser algo bastante pensado para estimular a cumplicidade entre governante e governados.
“Eu particularmente não acredito que seja improviso. É um improviso calculado. É um paradoxo, um improviso planejado”, diz Perillo. “Ele quer dar esse sinal de ‘sou mais um’. Tanto é que, nas outras ações do governo, sempre que ele pode, ele quebra essa liturgia [do cargo]. As roupas que ele usa, camisa de time de futebol. Vai para uma cúpula fora do Brasil e come em um restaurante popular.”.
De forma similar, Publio Dias, da ESPM, fala de um “improvisado pensado”, algo que é “simples, mas muito estudado”, e que remete ao período pré-posse. Ele cita como exemplo o café da manhã em que Bolsonaro recebeu em sua casa, em novembro, o conselheiro de segurança nacional americano John Bolton.
“Tudo é construído com este objetivo de ser não só entendido, mas aceito e tomado como verdade pela audiência”, diz.
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